segunda-feira, 18 de maio de 2009

O primeiro escândalo da moda carioca no século XX, a Jupe-culotte

Por Robson Granado


Acima, publicada em Careta, em 18/03/1911, e abaixo, publicada em 25/03/1911

“Hontem, no pateo do Hospício Nacional de Alienados, perante numerosos psychiatras, foi solemnemente lançada a pedra fundamental do monumento destinado a commemorar a invenção da jupe-culotte.”

Esta nota satírica foi publicada na revista Careta, em 25 de março de 1911. Na mesma edição, várias outras inserções apresentavam a novidade chegada ao Rio de Janeiro no final de 1910, a saia-calça, a então chamada jupe-culotte ou saia entravada.

A novidade provocou a reação indignada da população, principalmente a masculina. Uma mulher usando um misto de saia e calça era uma inversão de valores para a época, uma invasão do domínio tradicional do homem. Na imprensa popular, como a revista Careta, a reação foi de deboche tanto das mulheres que se atreviam a se apresentar em público vestindo a moda das damas parisienses, quanto de seus maridos.

As jovens eram vaiadas no centro da cidade. Os homens sentiam-se ameaçados por uma atitude entendida na época como feminismo másculo. Os maridos mais rigorosos não permitiam que suas esposas usassem o que eles chamavam de calças. Os que aceitavam a novidade em suas casas eram vistos como frouxos, maricas, incapazes de assumir seu papel de homem, marido e chefe de família.

Esta talvez tenha sido a primeira novidade da moda no século XX que revolucionou as tradições do vestuário feminino e desestabilizou a percepção do papel da mulher na família, na sociedade e no Brasil. Esse século, que mal começava, guardava outras revoluções muito mais profundas, que teriam na moda uma vitrine e uma oportunidade tanto para o protesto quanto para a apropriação ideológica e comercial de mudanças sociais, econômicas e políticas que viraram a sociedade pelo avesso.


Acima, publicada em 8/04/1911, e abaixo, publicada em 25/02/1911


Acima, publicada em 25/03/1911, e abaixo publicada em 26/11/1910


Acima, publicada em 15/04/1911, e abaixo publicada em 25/03/1911


Acima, publicada em 25/03/1911, e abaixo publicada em 25/03/1911

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